BETO LEMELA, Contador, Administrador com pós graduação em Recursos Humanos e Professor de Português, entre outras coisas: "Se você não quer ser esquecido quando morrer, escreva coisas que vale a pena ler ou faça coisas que vale a pena escrever" e "Os homens que tentam fazer algo e falham são infinitamente melhores do que aqueles que tentam fazer NADA e conseguem"
sábado, 29 de maio de 2010
DIREITO DE AMAR
Acaba de ser lançado o DVD do Filme DIREITO DE AMAR (tradução infeliz do título de um clássico da literatura inglesa “A single man”, no Brasil "Um Homem só"). No filme, um dia na vida de um solitário professor de literatura de uma pequena universidade da Califórnia. George (Colin Firth,numa interpretação delicada e sem afetação), cidadão inglês, há muito radicado nos Estados Unidos, que sofre com a ausência do "amigo" desaparecido num desastre de automóvel, vaga por seu apartamento tentando encontrar na rotina, refúgio e motivação.
Num dos primeiros dos flashbacks que ditam a construção do filme, ele recebe a notícia da morte do amigo com quem estava junto havia 16 anos. A belíssima cena é toda baseada no rosto e nas expressões do ator, que com sutileza empresta ao personagem uma dignidade dolorosa impossível de não se identificar. O solitário professor de meia idade atravessa corajosamente o seu cotidiano e até se permite uma pequena benedeira no final da noite. Um instante na vida de um homem resignado à monotonia e à falta de brilho, que aceita sem desespero sua vida sem perspectivas. Baseado no livro de um dos maiores romancistas do Século XX: Christopher Isherwood, foi dirigido por Tom Ford (de 48 anos), um dos mais famosos designer de moda americano, em seu debut no cinema.
O que vem a seguir revela o esforço e a inexperiência do novo cineasta em dar corpo a sua história de solidão. Ford parece bastante interessado em construir um filme plasticamente impecável então, além de caprichar na direção de arte, faz um trabalho interessante com sua fotografia, variando o tom das cores de acordo com o tom das cenas. Sua obsessão estética atravessa o cinematográfico e vai parar no casting: os jovens (homens e mulheres) que cruzam o caminho do protagonista parecem saídos das passarelas mais próximas, sempre bonitos, magros, prontos para posar.
No entanto, embora acerte na escolha da bela trilha de Abel Korzeniowski, que traduz a melancolia do filme, Ford parece não saber dar estofo à angústia de seu personagem. A culpa pode ser anterior, do livro de Christopher Isherwood, que recorre a um texto cheio de metáforas óbvias, como na cena da aula; joguetes de sedução que não saem da mesmice, seja com o prostituto espanhol ou com o aluno assanhado; e momentos de redenção übberclichês, como o banho de mar noturno.
Nem a presença de Julianne Moore, que continua linda e boa atriz, consegue dar densidade à dramaturgia. Na cena do jantar, ela e Firth parecem estar prontos para fazer explodir seus dramas, mas ficam travados pelo roteiro. Falta profundidade e refinamento. O vazio emocional do protagonista, embora bem traduzido na performance do ator principal, se transforma em discurso vazio por causa do texto fraco. Em vez de dirigir, produzir e escrever seu próximo filme, Tom Ford poderia tentar se concentrar numa só função para talvez mostrar tanto talento quanto na passarela.
Concluindo, é um filme com uma bela e triste história e uma interpretação soberba de Colin Firth, vencedor dos prêmios de melhor ator em Veneza e no Bafta, indicado para o Oscar de melhor ator, perdendo com muita injustiça para Jeff Bridges, mas prejudicado pelo diretor estreante que exagerou na estética. Porém, um filme imperdível pela história e pelo excelente trabalho do ator principal, que se firma como um dos grandes do cinema.
Assista vídeo com comentário do filme por crítica da VEJA.COM
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