sábado, 29 de dezembro de 2012

Livro: AMARGO, de Danton Medrado

Recomendo o livro de meu grande e querido amigo Danton Medrado, com o título "AMARGO", pois contém diversos contos passados em São Paulo, inclusive um deles premiado. E, para minha emoção e gratidão, um abraço enviado pelo autor em "uma letra sobre o livro e os cafés". Leiam e depois comentem comigo se estou fazendo uma boa indicação ou não !


segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

FELIZ NATAL !




Que neste Natal,
eu possa lembrar dos que vivem em guerra,
e fazer por eles uma prece de paz.

Que eu possa lembrar dos que odeiam,
e fazer por eles uma prece de amor.

Que eu possa perdoar a todos que me magoaram,
e fazer por eles uma prece de perdão.

Que eu lembre dos desesperados,
e faça por eles uma prece de esperança.

Que eu esqueça as tristezas do ano que termina,
e faça uma prece de alegria.

Que eu possa acreditar que o mundo ainda pode ser melhor,
e faça por ele uma prece de fé.

Obrigada Senhor
Por ter alimento,
quando tantos passam o ano com fome.

Por ter saúde,
quando tantos sofrem neste momento.

Por ter um lar,
quando tantos dormem nas ruas.

Por ser feliz,
quando tantos choram na solidão.

Por ter amor,
quantos tantos vivem no ódio.

Pela minha paz,
quando tantos vivem o horror da guerra

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

A CASA DE REPOUSO




O cenário é uma casa humilde de móveis velhos e antigos. Com um casal de idosos,  três filhos e um narrador.

Narrador: Depois de uma longa vida em comum, exatos 57 anos, Dona Clementina e Seu Jerônimo deverão separar-se em virtude da falta de condições financeiras para o sustento da pequena casa e do próprio casal. Seus três filhos casados, alegando falta de espaço na casa de cada um, resolveram de comum acordo interná-los em uma casa de repouso. Porém, como não encontraram casas mistas, optaram por internar cada um em um asilo diferente.

- Maria:  Puxa mamãe, eu tenho certeza que a senhora vai adorar a casa. É muito ensolarada, vai ter onze novas amigas para conversar, tricotar e assistir TV. Não vai precisar se preocupar com nada, só comer, tomar banho e dormir. Tem enfermeira para dar os remédios na hora certa, cozinheira .....

- Dona Clementina: Vou dividir meu quarto com quantas velhas?

- Maria: Não fale assim mamãe, a senhora vai dividir o quarto com três senhoras, mais ou menos da sua idade. Em cada quarto ficam quatro senhoras.

- Dona Clementina: Três velhas no mesmo quarto, comigo?

- Maria: Mamãe, que horror! A senhora nunca gostou que referissem a si como “velha”, por que isso agora?

- Dona Clementina: Porque “velho” é trapo!

- Jerônimo: Por que vocês não tentaram conseguir um asilo em que eu e sua mãe pudéssemos ficar juntos?

- Maria: É “casa de repouso” papai. Nos poucos asilos, isto é, casas de repouso mistas a fila de espera está ....
- Jerônimo: Já sei, saindo pelo ladrão!

- Maria: É mais ou menos isso, papai.

(Nisso entram os outros dois filhos que estavam esperando ao lado)

- Jorge: Como é, já estão prontos? Está ficando tarde e preciso voltar cedo para casa.

- Pedro: Quem vai comigo e quem vai com o Jorge?

- Maria: Eu e mamãe vamos com você e papai com o Jorge.

- Pedro: Puxa mamãe, por que essa cara emburrada?

- Dona Clementina: Não estou emburrada, só estou triste porque vou separar-me do meu velho depois de 57 anos juntos. Quem é que vai cuidar dele? Quem é que vai cuidar de mim? No decorrer de todos esses anos aprendi a reconhecer o pensamento do seu pai, sem que ele precisasse me falar nada....

- Maria: Ora, mamãe, a casa de repouso que o papai vai viver dispõe de todos os recursos e é tão boa quanto a sua ....

- Dona Clementina: Boa como a minha? Por que você está tão segura que ela é tão boa assim?

- Jerônimo: Deixa minha velha, já discutimos tudo isso há semanas e várias vezes, desde que nos “comunicaram o nosso destino” e não vêm adiantando nada os nossos protestos.

- Jorge: Não adiantou nada porque nós sabemos o que é melhor para vocês. É muito perigoso dois idosos vivendo sozinhos nesse mundo violento de hoje. No asilo pelo menos sabemos que estarão seguros e com gente habilitada cuidando de vocês.

- Pedro: Então, vamos!

- Dona Clementina: Podemos ao menos despedir-nos?

- Maria: É claro! Preferem ficar a sós?

- Dona Clementina: Se for possível....

(Os três filhos se retiram da sala, deixando os idosos).

- Dona Clementina: Meu velho, como vou fazer para viver sem você? Quem vai esquentar os meus pés gelados nas noites frias de inverno? Preferia estar saindo num caixão a ir para um asilo, sabendo que você vai para outro, longe de mim.

- Jerônimo: A culpa é minha, meu amor, que trabalhei uma vida inteira sem nunca ter conquistado um patrimônio que pudesse garantir a nossa velhice tranquila, independente da ajuda dos filhos ingratos. Se você perceber, tenho me mantido calado sem reclamar, porque me reconheço como um fracassado e ainda tenho muita vergonha de você e de nossos filhos, por isso.

- Dona Clementina: Você não tem que envergonhar-se por nada. Trabalhou a vida inteira com muito esforço e honestidade, nunca deixou faltar nada nesta casa e ainda deu a melhor educação possível para os ingratos dos nossos filhos ... que culpa você tem se como todos os velhinhos do Brasil depende da miserável aposentadoria do Governo, que não dá para nada?

- Jerônimo: Não minha velha, você sim me tornou um homem completo. O homem mais feliz do mundo e nunca vou cansar de agradecer a Deus ter colocado você no meu caminho.

- Dona Clementina: E você promete não morrer antes de mim e deixar-me sozinha nesse suplício de velhice?

- Jerônimo: Não, minha velha, se eu morrer antes, prometo que venho buscá-la o mais depressa possível. Se você partir antes, espero o mesmo de você.

-  Dona Clementina: Quem sabe o nosso reencontro não vai ser lá em cima?

- Jerônimo: Sim, se não podemos viver juntos aqui na Terra, tenho a certeza que lá em cima ficaremos eternamente juntos.

(Se abraçaram e ficaram alguns minutos fazendo carinho e juras de eterno amor, até a volta dos filhos, que vieram chamá-los a realidade).

- Maria: Estão prontos? Já está ficando tarde e cada um de nós tem compromissos. Vamos?

 Narrador: Depois que partiram e foram internados em casas de repouso diferentes, se passaram poucos meses e Dona Clementina partiu, isto é, deixou esta vida. Menos de um mês depois foi a vez do seu Jerônimo e todos estranharam o feliz sorriso estampado na face do pobre velho, pois ele sempre permaneceu tão triste na casa, parecia que ele irradiava uma estranha felicidade .... a alegria do reencontro.

FIM

Autor:     BETO LEMELA

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