Guerras tribais, genocídios, diversidade étnica. Essas são algumas das idéias que vêm à cabeça quando se pensa nos conflitos do continente africano. Mas, ao se considerar apenas o fator étnico como causa, perde-se a chance de compreender cada conflito, considerando múltiplos fatores. "Muitas podem ser as causas determinantes e, mesmo que existam algumas que são comuns à maior parte dos conflitos, sempre há especificidades.
Em conflitos como o de Ruanda, por exemplo, prevalecem fatores étnicos. No Sudão, fatores religiosos. No caso recente do Quênia, questões políticas e de poder assumiram maior importância. "Cada conflito deve ser estudado em suas características próprias, inclusive, analisados em perspectiva histórica, para que possamos melhor compreendê-los. Não é possível generalizações, ainda mais quando se trata de um continente tão amplo e diversificado em termos culturais como o africano".
A escassez de recursos, associada ao aumento da demanda por parte de uma população pobre e, em muitos casos, miserável, são elementos que pesquisadores consideram relevantes para pensar nos conflitos africanos. A incapacidade dos governos atenderem essas demandas provoca, por vezes, uma reação violenta por parte de setores sociais que se sentem abandonados pelo Estado. O prolongamento dos conflitos nos Estados, também tem sido associado à possibilidade dos grupos rebeldes se “auto-financiarem”, como foi o caso de Serra Leoa e Angola (nos quais os rebeldes controlavam minas de diamantes). “Vale lembrar também que durante a década de 1990, a mais violenta para a África no período pós-independência, havia muito armamento disponível no mercado internacional e a preços relativamente baixos e quase sem nenhum controle internacional".
A falta de desenvolvimento econômico, o traçado artificial das fronteiras e a dimensão inviável de muitos países, legados pelas potências européias, potencializam as contradições normais do continente. Os conflitos são deformados pelo colonialismo e neocolonialismo, que, desde o fim da Guerra Fria, vêm adquirindo uma dimensão propriamente mais africana.
Durante a Guerra Fria, a África (com exceção da África Austral) foi influenciada pelas ex-metrópoles, mas, com a globalização, a Europa perdeu enormemente sua influência e os EUA apareceram com a agenda da segurança antiterrorista. Nesse contexto, países como a China, o Brasil e, mais recentemente, a Índia, surgiram como grandes protagonistas na ajuda ao continente africano.
O fim da Guerra Fria e o avanço do processo de globalização redimensionaram as relações internacionais e atingiram os Estados mais fracos do planeta, sobretudo os africanos. A perda da importância estratégica que a África possuía enquanto vigorou aquele sistema, somada às mudanças estruturais que afetaram a economia mundial nas duas últimas décadas do século passado, e que continuam em progresso, são fatores considerados relevantes.
Confira vídeo do trailer do filme DIAMANTES DE SANGUE, sobre a realidade da exploração das riquezas minerais na África e a corrupção trazendo miséria e fome ao seu povo
Do ponto de vista econômico, tirando a República da África do Sul e, em menor grau, a Nigéria, os Estados africanos são exportadores tradicionais de matérias primas e produtos agrícolas, ou seja, são primário-exportadores. “Tudo isso leva a escassez de recursos por parte do Estado e, nesse contexto, a corrupção – quase epidêmica na África – promove um desastre ainda maior. As elites africanas têm grande culpa por conta da desagregação social de seus países.
Muitos organismos internacionais oferecem ajuda humanitária aos países africanos, mas esses auxílios e contribuições nem sempre são vistos de maneira positiva. Há críticas que ressaltam os prejuízos que a “ajuda” causaria, por reforçar a passividade, vir acompanhada de interesses geopolíticos e decisões externas, sem participação do povo africano, sobre onde, como e quando aplicar recursos. Seria melhor fornecer recursos à União Africana para que eles administrassem os recursos. Além disso, a ajuda tem uma visão distorcida dos problemas e suas causas.
O papel dos organismos internacionais, principalmente a Organização das Nações Unidas e diversas Organizações Não-Governamentais (como Médicos Sem Fronteiras, Human Rights Watch, Oxfam). “Sem elas a situação seria de abandono total para as pessoas que vivem nas zonas de conflito ou em regiões remotas onde o Estado é praticamente um ente desconhecido. Essas pessoas estariam abandonadas à própria sorte, ou melhor, à completa falta dela”. Essas organizações preferem atuar diretamente nas áreas onde cessou o conflito e que são mais carentes de suporte porque a credibilidade dos governos africanos é muito baixa ou quase nula. “A experiência recente indica que boa parte dos recursos que foram repassados para os governos africanos não foram aplicados de maneira correta, ou seja, em bom português isso significa que foram desviados. Dessa forma, existindo condições de segurança para as equipes de ajuda humanitária, elas se fazem presentes. E isso foi e continua sendo fundamental para milhares de pessoas que não podem contar com seus governos nacionais”.
Embora aparentemente o pior já tenha passado, há ainda um longo caminho a ser percorrido para que esse quadro seja superado. Isso “porque não se acaba com a pobreza, a miséria e as desigualdades sociais como num passe de mágica”. O combate à corrupção é apontado como uma das posturas que as lideranças africanas precisam enfatizar. Com um sistema econômico mundial que não colabora, a solução para os problemas africanos, precisa vir da própria África, de suas lideranças e de seus povos, e de mudanças na forma como o mundo fora do continente africano relaciona-se com ele.
Confira vídeo do trailer do filme HOTEL RUANDA: Em Ruanda, no ano de 1994, um conflito político levou à morte quase um milhão de ruandeses, no decorrer de apenas cem dias. O mundo fechou os olhos para Ruanda. Mas um homem abriu seus braços e coração e fez a diferença. Paul Rusesabagina (Don Cheadle) era gerente do Hotel Milles Collines, em Kigali, capital de Ruanda, quando o conflito começou.
Munido apenas da sua coragem, ele protegeu quem chegava ao hotel, adultos e crianças, mais de 1.200 pessoas, assim como sua própria família. Com direção de Terry George (Mães em Luta), indicado a 3 Oscar, baseado em uma história real, Hotel Ruanda conta a história de Paul para contar a história de Ruanda, como um alerta ao mundo.
Saiba mais:
Livros:
Muito longe de casa – memórias de um menino-soldado. Ishmael Beah. Rio de Janeiro: Ediouro, 2007.
Uma temporada de facões – relatos do genocídio em Ruanda. Jean Hatzfeld. São Paulo: Cia das Letras, 2005.
Gostaríamos de informá-lo de que amanhã seremos mortos com nossas famílias – histórias de Ruanda. Philip Gourevich. São Paulo: Cia das Letras, 2000.
Filmes:
Diamantes de sangue, dirigido por Edward Zwick.
Hotel Ruanda, dirigido por Terry George.
O Senhor das Armas, dirigido por Andrew Niccol
Tiros em Ruanda, dirigido por Michael Caton-Jones.
Fonte: http://www.comciencia.br
Confira vídeo do trailer do filme O SENHOR DAS ARMAS, sobre a realidade da venda de armamentos para governantes e revolucionários corruptos da África e do resto do mundo.
Se você gostou dessa postagem, visite também:
03/07/10 - Filme Flor do Deserto - mostra história real de modelo somali
08/06/10 - Massacre de golfinhos no mar do Japão
Nenhum comentário:
Postar um comentário