quarta-feira, 9 de março de 2011

PROFESSOR, A DESVALORIZAÇÃO DA PROFISSÃO

Nos últimos meses vem sendo veiculado na TV paga um comercial do MEC pregando a valorização do professor, ressaltando que nos países desenvolvidos o profissional responsável pelo desenvolvimento social e econômico é o PROFESSOR.

Seria muito bonito esse reconhecimento se não ficasse apenas nas palavras, pois se sabe que a profissão do professor vem sofrendo uma profunda rejeição dos jovens, já que há vagas de 6% nas universidades públicas nessa formação e nas privadas chega a 57%. Dos professores no magistério atualmente 53% já estão na faixa de idade para aposentar-se nos próximos anos (entre 40 e 59 anos) e apenas 15% são homens, pois também vem aos poucos se tornando uma profissão feminina, talvez pela baixa remuneração e nenhum reconhecimento da sociedade a um trabalho tão importante para os nossos jovens, o futuro da Nação Brasileira.

Como o salário de professor não oferece nenhum atrativo no mercado de trabalho, por ser demasiado baixo e exigir um esforço exagerado de constante atualização, além de uma baita carga horária de trabalho, que não fica apenas nas escolas, mas também em casa, preparando aulas, corrigindo provas e trabalhos, a cada ano o número de candidatos a professores vem diminuindo e acarretando muitas salas sem professores por longos períodos. Se a educação de nossos jovens vem apresentando resultados medíocres, por muitos motivos que certamente não cabem apenas aos professores, com a falta desses profissionais, fica muito pior, com toda a certeza.


Confira vídeo do Portal do MEC – Valorização do Professor



PROGRESSÃO CONTINUADA OU REPROVAÇÃO

Há muito se discute a “progressão continuada”, estratégia para permanecer “bem na fita” na UNESCO, inventada nos bastidores da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo ali pelos 90, na primeira gestão Alckmin post Covas.

Como todo bom projeto, tinha boas intenções, a proposta incendiou o debate da educação e sua eficácia, tornando-se o calcanhar de Aquiles da educação no estado mais desenvolvido do Brasil. Partia do principio que os alunos devem permanecer na escola o maior tempo possível, na tentativa de diminuir a evasão escolar de quem precisa de amparo e apoio da gestão pública. Mas era um falso princípio.

O que se viu e se demonstrou de sua ação durante esse tempo é que no fundo sua orientação foi a necessidade de gerar respostas satisfatórias às planilhas/relatórios visando os repasses de verbas das ornagelas internacionais, mais do que responder às necessidades de um nível educacional melhor, com alunos capazes de competir e ocupar no mercado interno e internacional os espaços ampliados na última década, com urgência reclamando gente mais bem preparada. Também porque existe um ranking mundial que mede a qualidade de ensino público nos países que estão fora do eixo do poder (G8) e que pleiteiam verba; as mais bem colocadas recebem incentivos.

Pretendia que nos níveis básicos do ensino fundamental alunos não deveriam ser reprovados, em si um desestímulo ao gosto pelo estudo e pela escola, ainda que a merenda escolar fosse “atraente”. Seriam, ao invés, projetados (promovidos) à frente e, com o apoio e a instituição de novos projetos específicos, em tese, recuperados em suas defasagens para evitar sentir o peso da reprovação.

Os tais projetos de apoio e recuperação só vieram 14 anos depois, já no fim da gestão de Serra e são denominados RECUPERAÇÃO PARALELA e vem obtendo um certo apoio das delegacias de ensino, no intuito de capacitar bons professores para essa tarefa, mas apenas para português e matemática. As provas Saresp e IDESP (para medir níveis e fluxo das escolas) também só apareceram bem depois, a crise já instalada. Foi mais fácil jogar a culpa da falência do projeto nas costas dos professores (tão vitimas quanto os alunos). Para remediar, criaram-se as capacitações profissionais, bônus e “provinhas” em vez de concursos públicos e uma remuneração digna.

Na falta de planejamento educacional, a gestão Serra optou por doar cadernos, mochilas, lápis, livros, apostilas, enfim, material escolar, criando uma aura ilusória de ocupação com a qualidade do ensino e sua clientela. Metade da lição. Não se alterou uma vírgula no valor dos vencimentos dos professores (16 anos com o mesmo, sem um aumento real acima da inflação), motivação maior para um funcionário. Não há sequer plano de carreira. Enfim, o profissional de educação é tratado como funcionário público ordinário, mas que lida com o intelecto das pessoas, responsável pela formação das próximas levas de mão de obra no nosso mercado de trabalho, que reclama cada vez mais candidatos bem qualificados.


Confira vídeo do Jornal Nacional: Profissão Professor




No Estado de São Paulo, como alunos do fundamental não sofrem reprovação, seus pais não se interessam em acompanhar e cobrar boas notas. Os alunos, como independente de boas notas, serão promovidos, não sentem qualquer estimulo em aprender o programa didático curricular, muito menos demonstrar o menor respeito e consideração com o pobre professor se esforçando no intuito de levar o conhecimento necessário para a sua formação. Está certo que eles não têm maturidade para esse reconhecimento e a escola para eles é apenas o “playground” onde poderão passar algumas horas com os amiguinhos “brincando”, quando o chato do professor não tenta interrompê-los. E, para os pais, a escola atualmente funciona mais como uma “creche”, onde seus filhos serão cuidados durante algumas horas, já que não cobram das crianças qualquer tipo de nota ou execução do trabalho de casa, como vem acontecendo e os professores se lastimando.

Nas reuniões de pais e mestres, quando são alertados tanto das dificuldades de aprendizado, como do mau comportamento dos filhos, alegam que é por incompetência do pobre professor, coitado, não reconhecendo qualquer responsabilidade na péssima educação que dão aos filhos. Se aos professores cabe ENSINAR e PREPARAR os alunos para a vida e o mercado de trabalho, aos pais cabe MANTER e EDUCAR seus filhos para que cresçam cidadãos e bem preparados para o convívio social.


PROFESSORES ESTRESSADOS

Qualquer pessoa que se dispuser a fazer uma pesquisa na internet ou nas bases especializadas em publicações cientificas ficará surpreso com a enorme quantidade de pesquisas que apontam a presença de estresse em professores. Algumas delas afirmam que 50% dos profissionais da educação apresentam sintomas às diversas faces do estresse, inclusive a de exaustão. Logo, o professor tem sido apontado como uma das maiores vitima do estresse profissional, mais conhecido como Síndrome de Burnout. Esta síndrome caracteriza-se por um estado de esgotamento físico e mental cuja causa está intimamente ligada à vida profissional e é causada por circunstâncias concernentes às atividades profissionais, ocasionando sintomas físicos, afetivos, cognitivos e comportamentais. Entre os principais sintomas do estresse destacam-se dificuldades de concentração, dores de cabeça e musculares, fadiga, ansiedade e depressão.

São inúmeras as causas do estresse profissional do professor: mudanças constantes de currículo; insegurança profissional; incerteza de obter aulas a cada novo ano: acúmulo de funções que outrora eram realizadas pelas secretárias e por gestores especializados: desmotivação e grosseria dos alunos: falta de apoio dos pais e, sobretudo, falta de reconhecimento do governo e da sociedade brasileira. A desvalorização da profissão do professor pelo corpo discente ou pela própria sociedade é um dos maiores responsáveis por este grave distúrbio. A sensação de impotência do professor pode chegar a extremos, quando este se depara com problemas que não dependem apenas de sua ação para serem resolvidos, principalmente aqueles relativos à degradação do sistema educacional.

Alguns professores ainda afirmam ser bastante desgastante encontrar equilíbrio suficiente para mediar a relação entre os alunos. Sob estresse, ansiedade e muitas vezes quadros de depressão, é bastante penoso chamar a atenção, interromper a aula, motivar os alunos, intermediar conflitos, etc. Curiosamente, a Síndrome de Burnout atinge professores motivados que reagem a este desequilíbrio empenhando-se ainda mais. A desproporcionalidade entre o empenho do professor e os resultados obtidos por este reforça ainda mais sua frustração.


Confira vídeo TV Câmara: Gabriel Chalita defende professores em discurso na Sessão Plenária




PROFESSORES SOFREM ATÉ AGRESSÕES FÍSICAS

Cerca de 80% dos professores da rede pública de São Paulo já sofreram algum tipo de agressão física no exercício da profissão. O dado faz parte de uma pesquisa realizada pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeosp).

A presidente da APEOESP, Maria Izabel Azevedo Noronha, afirmou que as escolas ganharam as páginas policiais, com casos de violência, a partir dos anos 1990 (coincidência com o inicio da progressão continuada?). ”O problema antes estava localizado na capital. Agora, atinge também o interior do estado”, disse.

Segundo ela, de 10 a 15 professores são assassinados por ano no estado. Esses casos fizeram com que a entidade criasse o Observatório de Violência, que registra as ocorrências violentas num banco de dados. Cerca de 96% dos registros referem-se à agressão verbal. Outros 88,5% descrevem casos de vandalismo.

DILMA, ALCKMIN E AS PROMESSAS DE CAMPANHA

Dilma Roussef, como mostra o vídeo abaixo em debate na TV Globo, comprometeu-se a melhorar a remuneração dos professores nos próximos anos, no intuito de valorizar e reconhecer a profissão necessária para transformar o Brasil de um país emergente, para outro desenvolvido. Esperamos que essa não seja mais uma promessa de campanha, a ser esquecida ou relegada a segundo plano no futuro.

O Governador Alckmin durante a sua campanha, também prometeu olhar com cuidado a educação no estado, rever conceitos e valorizar o professor. Vamos ver!


Confira vídeo Debate TV Globo – Dilma prometendo mais valorização do professor




Fontes: Volmer S. do Rego, jornalista, escritor e professor, em opinião no Metrô News dia 15/02/11;
Marcello Árias Dias Danunalov, jornalista da Revista Geografia, edição de janeiro/2011;
Fernando Granato, jornalista, no Diário de São Paulo, em 02/03/11.


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3 comentários:

  1. Beto adorei o texto sobre a valorização do PROFESSOR, não sei se já mencionei, sou Pedagogo, especialista em Psicopedagogia. Vou indicar esse texto para os professores lerem no meu município. Parabéns.

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  2. quando sua mae dizer pra ser doutor nao entenda professor

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  3. que tal dar os respectivos créditos às respectivas matérias? de qq. forma sua iniciativa é louvável e merece continuar.

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